Bloqueio

Verbo e nome. Mais nome que verbo. Contra a acção. Interior e exterior. Singular ou plural. Temporário ou permanente. Pensamento excessivo. Com receio do que poderá vir a acontecer. O permanecer para conservar algo. Necessidade de tempo. Intervalo ou possibilidade de paragem no tempo. A pressão exterior pode ser a causa. Um interior que se sente diferente. Avisos, alertas. Dúvidas acumuladas. Mas no fim, algo claro: existem as ideias que nos colocam na cabeça e que repetimos em cada gesto e pensamento. Somos fantoches. O bloqueio é talvez um intervalo lúcido. Vou bloquear e não volto a reiniciar tão cedo.

Pensamento, dúvida, conhecimento...

Unidade

Tudo na vida é caminho
nalgum sentido traçado
e não há passos em falso
até esses têm sentido
num amanhã ainda opaco.

Os ziguezagues que fiz
não os dou por incidentes
a desviar o meu rumo;
enquanto perdi o tempo
ganhei ciência de amá-lo
agora que vale a pena.

Nenhum poder que disperse
esta profunda constância
de ser em cada momento
aquele que sempre teve
um só rosto verdadeiro.

E sempre nas minhas veias
o mesmo calor do sangue
e sempre o mesmo horizonte
ainda que vago na bruma
e esta sede sempre viva
dum bem que sempre ansiei.



Adolfo Casais Monteiro

Fragmentos

...e procuro novos horizontes.
Traço rotas...
...e surpreendo-me com o que não aparece em mapas...
...mas que nos fala muito sobre o Mundo.
Reflectindo sobre o que vejo...
...e com o encanto nos olhos, mesmo quando o tempo é incerto.
Contemplando o passado...


...e o que nos aparece de surpresa ao virar da esquina.

No final, a certeza de que, ao contrário do que nos querem fazer acreditar, não existem sentidos únicos.

A Febre

A primeira peça de teatro a que assisti contava com a interpretação de João Reis. Ontem, em mais um dia do Teatro, voltei a "encontrar-me" com um grande actor. Uma hora e meia sozinho em palco com um texto de Wallace Shawn, The Fever. O tradutor, Jacinto Lucas Pires, é claro no que esta peça provoca a quem está na plateia : "Uma peça que não nos apanha pela "empatia" costumeira das ficções, antes por esta horrível "cumplicidade" no crime. No crime da injustiça, da desigualdade, da desesperança." E continua "nunca nos sintamos apenas, e oh tão confortavelmente, "espectadores". Não, aqui estamos dentro da "história", não viemos do nada e não estamos no meio do nada, somos "actores". E, portanto, em consequência, saindo daqui, não teremos de agir?"


Mas do que se fala nesta peça? Fala-se de um mundo, o nosso mundo, em que enquanto uns festejam outros são torturados longe da vista dos primeiros para que a "festa" não seja estragada. Em que uns reclamam para si sempre o melhor e outros nem sequer têm voz. Mas o melhor é ler, vale a pena. O texto está aqui.

Foz Côa


No caminho...

...para maravilhar-me com amendoeiras...

...fui surpreendida por paisagens incríveis...

...que foi difícil abandonar.

Recuei muito tempo...

...procurei as origens...

...e fui encontrando respostas e...

...verdades das quais nos esquecemos tantas vezes...

...as quais muitas vezes não admitimos...

...ou nas quais deixamos de acreditar.

Mas encontram-se sempre surpresas no caminho. Por isto, é preciso não deixar de acreditar.

Blue Valentine



You always hurt the one you love,
The one you shouldn't hurt at all.
You always take the sweetest rose,
And crush it till the petals fall.

You always break the kindest heart,
With a hasty word you can't recall.
So, if I broke your heart last night,
It's because I love you most of all.

Onde quer que o encontres



Onde quer que o encontres -
escrito, rasgado ou desenhado:
na areia, no papel, na casca de
uma árvore, na pele de um muro,
no ar que atravessar de repente
a tua voz, na terra apodrecida
sobre o meu corpo - é teu,

para sempre, o meu nome.


Maria do Rosário Pedreira, in Nenhum Nome Depois

Em destaque

O blog continua em outro endereço

https://primicias.wordpress.com/